Caso meus estimados leitores (?) não saibam, sou um modesto torcedor do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. É verdade, podem acreditar. Não somos tão poucos como dizem as más línguas. Pois então, mais um Campeonato Brasileiro se aproxima e temos tudo para repetir as performances mais recentes, que consistiram, basicamente, em tentar fugir do rebaixamento. Nessas ocasiões, o Arthur Dapieve costuma surgir com algum artigo descrevendo o miserê existencial que constantemente aflige os alvinegros. Bom, enquanto essa salutar iniciativa não é tomada, vou aproveitar o gancho para expor os motivos da minha escolha clubística.
Claro que a tradição familiar pesou bastante, mas posso dizer que torcer pelo Botafogo é, antes de tudo, uma questão de caráter. Precisei de muito para não ceder à tentação do caminho fácil e virar adepto de Flamengo, Vasco ou Fluminense, clubes mais populares e que sempre disputavam títulos (refiro-me ao passado, notem bem). Ao escolher o time da estrela solitária, eu estava afirmando minha individualidade e aceitando as conseqüências desse ato. A década de 80 não era a época mais recomendável para uma criança se revelar torcedora do Botafogo. Corria o auge do jejum de 21 anos sem títulos, período marcado por jogadores pavorosos e campanhas pífias. Suportei estoicamente o implacável deboche infantil e me conformei em sempre ser o único botafoguense da sala, quiçá da escola inteira.
Nos domingos à noite, eu gostava de assistir à mesa redonda da TVE com seus cronistas esportivos do quinto escalão, liderados por um negão de penteado black power, medalhão no pescoço e roupas berrantes, espécie de refugo de Woodstock. O programa tinha o apoio dos tapetes 3B-Rio, que durante algum tempo estampou sua valorosa marca na camisa do Botafogo. Sentiram o drama? Meu time era patrocinado por uma empresa que fabricava tapetes de automóveis! Isso é que é ser decadente... Após o encerramento do debate, era exibido o VT de algum jogo da rodada do Campeonato Carioca no qual o Botafogo invariavelmente perdia. Até hoje me lembro do nome de alguns dos perebas que transformaram minha infância num pesadelo sem fim: Luis Carlos, Perivaldo, Brasília, Vágner, Petróleo, Helinho, Mirandinha...
Também existe um componente masoquista na fórmula, já que tudo pro Botafogo acontece de forma sofrida. O torcedor, lá no fundo, sente um certo prazer em se descabelar de raiva com os fiascos que ocupam 90% da vida do clube. Isso só torna os 10% restantes mais especiais. Afinal, que graça pode existir em torcer para um time que ganha sempre? Claro que nem tudo é desgraça, podemos nos gabar do fato dos melhores jogadores brasileiros terem envergado nosso uniforme, servindo de base para três títulos mundiais do Brasil. Pena que isso tudo ocorreu muito antes do meu nascimento.
Não é à toa que eu tenho essa mentalidade derrotista, o Botafogo me ensinou a sempre esperar pelo pior. Mas, mesmo com toda a sua desdita, o alvinegro é um ser orgulhoso e procura distinguir-se da histérica turba adversária. Nos agrada ironizar esse povo incapaz de identificar a bola, mas que imagina subir de status por se declarar “framengo” (lembro que tempos atrás o Dapieve escreveu uma polêmica coluna sobre o totalitarismo rubro-negro). Talvez isso explique porque resisto em torcer pelo Brasil. Senão vejamos: é a seleção mais bem sucedida do planeta com suas 5 Copas conquistadas; conta, em tese, com o apoio de 170 milhões de torcedores; goza de grande popularidade no Terceiro Mundo e em alguns países do Primeiro; a mídia internacional está sempre a lhe rasgar elogios. Assim fica fácil. Quero ver torcer pela Ilha de Montserrat, última colocada no ranking da Fifa.
Enfim, quem sabe este ano ocorra um milagre e o Botafogo faça um papel digno. Eu poderia até me animar a arriscar uma ida ao Maracanã, a última vez foi no ano passado contra o Paraná. O resultado? Perdemos de 2 a 0... mas conservamos a fleuma.
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